O fact checking, ou verificação de dados, diz respeito ao trabalho jornalístico investigativo de confirmar e comprovar dados e afimações divulgados nos meios de comunicação social e nas redes sociais, tendo por objetivo detetar erros, imprecisões ou mentiras.
Segundo João Canavilhas e Pollyana Ferrari (2018) [1], “No século XXI, a informação mediada por um dispositivo móvel não é apenas privilégio de alguns, estando presente na vida de quase 65% da população mundial. Os conceitos de fake news e pós verdade saltaram para a ribalta porque atualmente a informação chega quase em simultâneo com a ocorrência do acontecimento, grande parte das vezes filtrada por amigos ou algoritmos adaptados aos hábitos de consumo e localização do usuário. Novos mídias, novos atores e consumidores cada vez mais imersos na presentificação proporcionada pelas telas permitem ao consumidor sentir-se protegido pela teia humano-algorítmica que o rodeia, reduzindo os mecanismos de alerta em relação à veracidade da informação que recebe e, dessa forma, abrindo a porta a notícias falsas e à era da pós-verdade.”
Ainda em Fact-Checking: o jornalismo regressa às Origens, João Canavilhas e Pollyana Ferrari questionam “Mas como reconhecer uma notícia falsa? O usuário está preparado para identificar as fake news? E o que fazem os jornais e as redes sociais para evitar a sua circulação?”
Em novembro de 2018, Fernando Esteves, jornalista com experiência em meios como o Euronotícias, O Independente ou a revista Sábado, onde foi editor de Política entre 2005 e 2017, fundou o projeto Polígrafo, que se propôs a acompanhar “um conjunto alargado de personalidades cujas intervenções têm relevância pública. Falamos de políticos, de comentadores, de “influenciadores”, de artistas e até de agentes do meio desportivo. O critério é sempre o que resulta do cruzamento da projeção das suas palavras e do interesse público que elas representam.”
Em abril de 2019, a SIC, em parceria com o Polígrafo, criou o formato Polígrafo SIC, um programa de fact checking com periodicidade semanal, apresentado por Bernardo Ferrão, subdiretor da SIC e SIC Notícias, com transmissão às segundas feiras, inserido no Jornal da Noite, da SIC e com repetição na SIC Notícias.
Em setembro de 2020, também a TVI fez parceria com o Observador, o primeiro órgão de comunicação social nacional a integrar a International Fact-Checking Network (IFCN), do Poynter Institute for Media Studies, criando o formato Hora da Verdade. A Hora da Verdade conta com uma rubrica diária, com pelo menos um fact check a uma notícia do dia, e com uma versão alargada do programa, à sexta feira, inserida no Jornal das 8, apresentada pro Pedro Benevides, ex-editor de política do Observador e atual subdiretor de informação da TVI, e por Hugo Matias, jornalista da TVI e TVI 24, desde abril de 2005. A Hora da Verdade conta, também, com o Laboratório da Hora da Verdade, onde Marco António, jornalista de televisão desde 2002, em permanência na TVI desde 2006, testa dicas e conselhos amplamente partilhados nas redes sociais, com o intuito de verificar a eficácia, a funcionalidade e a validade dessas mesmas dicas e conselhos.
Analisámos as 5 últimas emissões de ambos os programas, por forma a descobrir qual tem maior aceitação entre os telespetadores. Uma vez que ambos têm uma versão alargada e apenas o Hora da Verdade, da TVI, tem rubrica diária, restringimos a nossa comparação à versão semanal de cada um deles.
Nas últimas 5 emissões, o Polígrafo SIC teve, em média, 1 475 209 telespetadores na sua transmissão no canal generalista. O dia com melhor audiência, dentro do período em análise, foi o dia 12 de outubro, com 2 528 903 de telespetadores. Neste episódio, estiveram em análise temas como “António Costa ainda é acionista do Benfica?”; “Tribunal de Contas: princípio tem sido o da não renovação de mandatos?”; “Procuradoria europeia: Governo não nomeou magistrada escolhida por júri?”; “OE 2021: impostos indiretos não aumentam?”; “Apoio às empresas: lay-off custou 1.9 mil milhões até agosto?”; “Ventura ataca Bloco de Esquerda: bloquistas têm candidatos com ficha criminal?” ou “Vacinados podem contagiar outros?”, entre outros. No sentido inverso, o dia com menor audiência do Polígrafo SIC, nas últimas 5 emissões, foi o de 02 de novembro, com 1 032 606 de telespetadores, onde, entre outros, estiveram em análise temas como: “Camas COVID-19 no SNS: Costa e Temido divulgaram números diferentes?”; “COVID-19 nos lares: brigadas de intervenção rápida já estão a operar?”; “Uso obrigatório de máscara na rua: Chega propôs em abril e foi contra em outubro?”; “Uso de máscara: reduz oxigénio e pode causar problemas cognitivos?”; “Proteção da COVID-19: máscaras azuis borrifadas com químico nocivo?” ou “Despiste da COVID-19: testes PCR são “bullshit”, como escreveu Ronaldo?”.
Já o Hora da Verdade teve, em média, 933 178 telespetadores nas últimas 5 transmissões do seu formato alargado, em canal aberto. O dia com maior audiência foi 30 de outubro, com 979 109 telespetadores, e estiveram em análise temas como “Máscaras cirúrgicas são “borrifadas” com químicos prejudiciais para a saúde?”; “A vacina pode matar mais que a COVID?”; “Ajuda de 1700 milhões do Estado à TAP é o dobro do que custou a medida do Layoff?”, “30% das vagas para médicos ficam vazias, como afirma o Bloco de Esquerda?” ou “Angela Merkel disse que tinha ‘muita pena’ dos portugueses?”, entre outros. No sentido inverso, a transmissão com menor audiência no período em análise foi a de 9 de outubro, com 824 903 telespetadores. Nesta emissão, estiveram em análise temas como “Hospitais privados fecharam as portas quando a população mais precisou de cuidados de saúde?”; “Donal Trump e os números da gripe no USA” ou “Carregar na tecla ‘cancelar’ no Multibanco evita burla?”.
Ambos os formatos têm transmissão nos canais informativos da SIC e da TVI, embora com horários de transmissão muito distintos. Optámos por comparar 3 transmissões de ambos, no horário late night, onde as emissões da SIC Notícias de 12, 19 e 26 de outubro tiveram, em média, 67 262 telespetadores, sendo que a emissão mais vista foi a de 19 de outubro, com 89 183 telespetadores e a e menos vista foi a de 12 de outubro, com 45 819 telespetadores. Já as emissões de 10, 16 e 24 de outubro da TVI 24, no horário late night, foram vistas em média por 45 324 telespetadores, com a emissão mais vista, a 10 de outubro, a ter 68 282 telespetadores, enquanto que a menos vista, a 16 de outubro, reuniu apenas 25 732 telespetadores.
Importa referir que a transmissão da Hora da Verdade, na TVI 24, no período Daytime – entre as 10h e as 15h30 – motivou um grupo substancialmente maior de telespetadores. A emissão de dia 16 de outubro, que reuniu apenas 25 732 telespetadores no late night foi vista, em média, por 121 306 telespetadores na sua emissão das 15h. Do mesmo modo, a emissão de dia 24 de outubro, pelas 11h30, reuniu 69 962 telespetadores, enquanto que a emissão do programa na mesma data, em late night, foi vista por apenas 41 957 telespetadores.
A análise Cision apresentada baseia-se no número médio de telespetadores que assistiram a cada programa de TV.
Fonte de dados: CAEM/GfK
[1] Canavilhas, João e Ferrari, Pollyana (2018) – Fact-checking: o jornalismo regressa às origens, Editorial Sulina.
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About Susana Fernandes
Media Researcher, Cision Formada em Comunicação Organizacional, vesti a camisola da CISION em 2006, tendo tido a oportunidade de trabalhar em áreas tão distintas como as Análises de Media, as Análises de Social Media e, agora, o Media Research. Adoro comunicar, pessoas do bem, gatinhos fofinhos - há outro tipo?! - e todos os momentos que consigo passar no meu tapete de Yoga, não necessariamente por esta ordem.